O dia em que não escrevi aqui:
Dia 24 de janeiro, quando tudo estava a digerir os resultados das eleições presidenciais, escrevi um texto no meu Facebook, ao contrário do normal, que é escrever aqui:
"Não costumo escrever estas coisas aqui mas no meu blog que alguns de vocês conhecem - A Filha Mais Velha - www.novavelha.blogspot.com - mas, desta vez teve de ser.
Há quase um ano que começou, em Portugal, esta guerra com um inimigo invisível e que deixa duras marcas.
Sempre disse que se ele me passasse ao lado e não morresse ninguém conhecido, havíamos de o vencer, no entanto, não deu, alguns amigos não resistiram.
Apesar dos números de março até ao final de ano, que não devem ser ignorados, nem esquecidos, nem apagados, parece que agora é que estamos a ver “como é que ele morde”, sobretudo aqui por Montemor.
Não gosto do Natal, muitos já o sabem, por mim, teria sido à porta fechada para todos, sem excepção, porque, como já se viu, foi o último para muitos e isso podia-se ter evitado, em alguns casos.
Como me escrevia a minha amiga Carmen Garcia “isto é uma guerra”, e é uma guerra à séria.
Alguns podem estar a ler e a pensar: ah mas tu foste reticente ao uso da máscara, pois fui. Ah mas o vírus ainda não te chegou ao pé. Não chegou? Chegou o suficiente para eu perceber.
Há quase um ano que não damos beijos e muito menos damos abraços.
Há quase um ano que há negócios a definhar.
Hoje é dia de eleições e há pessoas que nunca falharam um dia destes e que hoje não vão votar, por protesto. Outros há que estão em confinamento e impedidos de votar, poderiam votar depois, ninguém pensou nisso?
Quem imaginava, ao dia de hoje, ter uma mãe ou um pai numa cama de hospital e estar do outro lado a sofrer sem nada saber, porque as comunicações são as mínimas?! Ninguém.
Não vejo uma das minhas vizinhas há semanas, trabalha todos os dias, é enfermeira naquele sítio onde provavelmente ninguém quereria ser se imaginasse a guerra que aí vinha.
Não vejo os meus vizinhos do lado desde a véspera de ano novo, como é possível?
E os lares? Onde ele entra sem compaixão, dividindo quem lá trabalha, uns numa cama de hospital, outros positivos em casa, uma vez que depois do resultado do teste deixam quem lá fica, a combatê-lo em lágrimas?
Temos escolas fechadas, meninos com saudades de educadores e auxiliares, profissionais com saudades dos meninos; no meio disto tudo, há escolas abertas para pais que não param de trabalhar, é o nosso caso cá em casa mas as nossas profissões não constam da lista. Resta-nos deixar as nossas crianças com os avós, sendo eles um grupo de risco, face à sua idade.
Não esqueçamos aqueles a quem o esgotamento ou a depressão chegou à porta e muitas vezes sofrem em silêncio.
Nesta altura do campeonato, todos temos culpa e ninguém tem culpa mas, parece-me que demorámos todos, eu inclusive, a perceber.
Muito mais haveria por escrever, escrevam vocês, bom resto de domingo!"
Comentários